AMOR DE PAI

Há poucos meses, eu pegava ônibus todos os dias por volta das 11h30. Sempre que chegava ao ponto do ônibus via um senhor de chapéu sentado no banco. Em um dos dias de interminável espera, decidi puxar assunto. Perguntei a ele qual ônibus estava esperando. Ele disse que não estava esperando ônibus, mas o filho dele, que passaria ali. Disse que quando saía de casa o filho estava dormindo, mas o via naquele horário. Minha conclusão era que o filho passaria ali de carro para que os dois fossem pra casa juntos. O papo continuou, falando sobre violência, Belo Horizonte, política e crise. Me contou que era aposentado, mas fazia uns serviços esporádicos numa oficina. Andava muito a pé e aos finais de semana tocava samba em um clube de Pouso Alegre. E isso foi tudo que ouvi daquele senhor.

Comecei a estudar de manhã, então não o vi mais. Eu consegui ser dispensada das disciplinas que teria que cursar na quinta feira, então não tenho aula nesse dia. Hoje, por uma série de desacertos, saí super atrasada pro trabalho e lá estava ele, sentado no ponto como sempre. Cumprimentei-o e continuei a esperar. Veio um ônibus que eu não poderia pegar e parou bem ao meu lado. Continuei olhando para frente, vendo se viria outro ônibus, até que vi aquele senhor de pé, cumprimentando alguém dentro do ônibus. Ele sorria e acenava para um rapaz, que olhava para frente, parecendo não o ver. Eu não sei se ele respondeu o cumprimento antes, mas quando vi a cena, ele já ignorava completamente o aceno.

Antes que eu me desse conta do que estava acontecendo, o senhor apontou para o rapaz e me disse: "Aquele ali que é meu filho!". Sorriu e acrescentou: "Agora eu vou embora". Eu fiz uma expressão de incredulidade, tentando entender, mas ele acrescentou, como se estivesse me lembrando: "Eu espero ele passar aqui todos os dias".

Ele já havia me contado isso, mas eu não fazia ideia do que essa frase significava. Todos os dias, ele se senta no ponto de ônibus e espera o filho passar, apenas para o ver por alguns segundos, mesmo que o filho não pareça se importar.

Um nó se fez na minha garganta imediatamente. "Amor de pai". Essa expressão ficou se repetindo em minha mente, trazendo inúmeras memórias. Veio a imagem do pai amoroso esperando o filho pródigo voltar pra casa. Pensei no amor do Pai, tão grande por nós, pecadores. Pensei no meu próprio pai, que não vejo há tanto tempo e que já fez tanto por mim.

Fui chorando no trajeto todo até o trabalho.

"O seu amor é tão forte, mais que inferno e a morte
São torrentes que arrebentam no chão
Mais fácil secar os mares e apagar a estrela Antares
Que arrancar o amor do seu coração
Fim de tarde se debruça no portão"

A canção de Stenio Marcius ficava ecoando em minha mente, me fazendo chorar mais ainda.

Sabem, eu conheço muitos pais imperfeitos. Pais que erraram muito com seus filhos e filhos que possuem mágoas profundas por causa disso. Alguns realmente têm muitos motivos para sentir raiva, outros sequer sabem o nome do pai. Mas para aqueles que os conhecem e que sabem que apesar de todos os defeitos, o pai daria a própria vida pela sua, eu gostaria de fazer uma sugestão: perdoe seu pai hoje. Seu pai não é eterno e talvez você não tenha outra chance. Fico pensando naquele rapaz do ônibus, quando não tiver mais o pai sentado ali. Tenho muitos amigos que sei que trocariam toda riqueza do mundo para terem a chance de abraçarem seus pais de novo. Se você é pai, procure seu filho. Ele não precisa de um pai perfeito, ele precisa de sua presença e da certeza do seu amor.

Sobretudo,espero que você conheça o amor do Pai celestial. Esse Pai tão maravilhoso, que se manifesta de formas tão grandiosas, mas que se importa tanto quando uma de suas ovelhas se perde. O Pai que espera ansioso a volta do filho, bastando apenas vê-lo ao longe, para sair correndo em sua direção. O Pai que se desmancha por filhos que na maior parte do tempo são ingratos e murmuradores. Filhos que se esquecem rapidamente de todo o bem que o Pai já lhe fez e viram as costas, revoltosos e cheios de motivos. Esse que chamamos de Deus, que tantas vezes parece distante, deseja se apresentar como Pai a você. Como todo Pai, Ele corrige e educa ao filho que ama. Seu amor é exigente e confrontador. Mas nem toda alegria do mundo se compara ao privilégio de receber Sua correção.

Esse Pai me abraçou de forma que ser humano nenhum poderia me abraçar nas noites mais escuras da minha vida. Esse Pai entra em vales que nem mesmo meu pai aqui na Terra poderia entrar. Esse pai conhece as veredas da minha alma e ainda assim diz: "Você é minha". Esse Pai me faz cair de joelhos, mas também me faz sentir Seu colo. Esse Pai tão grandioso me permite chama-Lo de Pai, mesmo sendo o dono do Universo. Já pensou no tamanho desse privilégio?

Eu espero que você um dia entenda o tamanho desse privilégio. Eu espero que você não associe a figura de seu pai na Terra a esse Pai que está nos céus e ao mesmo tempo presente em todo o tempo. Eu espero que você possa perdoar e se reconciliar com seu pai enquanto ainda há tempo. Eu espero que se não houver mais tempo, você consiga lavar a mágoa hoje e ficar em paz em relação a isso.

Ao meu pai, Cláudio Prazeres, muito obrigada. Qualquer imperfeição jamais fez eu me sentir menos amada por você.

Que esse amor tão forte se derrame como torrentes sobre cada um de vocês.

No amor do Pai que nos faz irmãos,

Amanda.


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