EFEITO "13 REASONS WHY" E SUICÍDIO- IGREJA, ONDE ESTAMOS?

Eu não costumo assistir nada quando todo mundo comenta muito. Acho que porque crio muita  expectativa e depois acabo me frustrando. Como eu estava sozinha em casa esses dias, acabei decidindo assistir, por indicação de uma amiga que falou muito da série.

Achei os primeiros episódios meio chatos, a narrativa um pouco cansativa, mas como toda série da Netflix é muito envolvente, continuei a ver. De ontem pra hoje, acabei de ver a série. Não tomei café nem almocei cedo, porque não conseguia parar de ver.
Ao longo dos episódios, uma angústia enorme começou a tomar conta de mim, fazendo um bolo no estômago e um nó na garganta. Quando eu estou assistindo algo e tenho essa sensação, geralmente penso: "Relaxa, é ficção. São só atores. Eles estão bem".

Mas não dá pra fazer isso com "13 Reasons". Ela é dolorosamente real demais, apesar de não ser um documentário.
Quando acabei de ver a série, chorei por mais de uma hora, sem conseguir parar. Até cheguei a gravar um vídeo sobre o assunto, mas como estava chorando demais, preferi não postar porque eu quero muita coisa com essa reflexão, menos apelar para o sentimentalismo.

A série resumidamente conta a história de uma menina, Hannah Baker, que decidiu se matar, mas antes disso gravou treze fitas explicando os “porquês”. Tais “porquês” na verdade são pessoas que passaram pela vida dela e de alguma forma contribuíram pra sua decisão. Que eu saiba não é inspirada em uma história específica, mas não tenho dúvidas de que foi inspirada por fatos reais.

Minha mente ainda fervilha com a quantidade de emoções que essa série me causou, mas eu gostaria de fazer uma pergunta, que não quer sair da minha mente: Igreja, onde nós estamos? Onde é que nós estamos quando jovens e adolescentes decidem tirar a própria vida? Onde é que nós estamos quando jovens gritam desesperados por socorro, bem debaixo do nosso nariz?

Já sei: estamos discutindo sobre a menina que foi pro Lolapalooza. Estamos discutindo o tema do nosso próximo acampamento ou quais atrações vamos trazer para atrair mais jovens à igreja. Estamos comprando produtos gospel para mostrar pro pessoal que a gente é crente. Estamos nos envolvendo em brigas na internet sobre política. Estamos discutindo sobre calvinismo e arminianismo, apontando dedos uns pros outros. Estamos fazendo nossos churrascos e festas, excluindo dos nossos convites os jovens que não têm nada a nos oferecer, não são “cool”, não agregam valor. Estamos escolhendo nossos pares pela beleza e pelas “possibilidades” que eles podem nos oferecer. Estamos fingindo que na igreja todo mundo é aceito, incluso, tendo plena consciência de que não chamaremos todo mundo pra aquele passeio amanhã.

Estamos ignorando a dor do outro, dizendo que vamos orar pelo problema dele, quando na verdade não oramos. Estamos ignorando a dor do outro, deixando de visita-los no momento de dor, achando que uma mensagem no WhatsApp dizendo “fica bem” serve pra alguma coisa. Estamos ignorando a dor do outro, menosprezando-a, diminuindo-a, mensurando-a, dando o valor que a gente acha que essa dor tem. Estamos ignorando a dor do outro, sem chorar com os que choram, sem carregar o fardo uns dos outros. Estamos ignorando a dor do outro, ao ignorar completamente a nossa missão.

Eu acrescentaria um porquê à vida da Hannah: a igreja, ou melhor, a ausência dela.

Será que se um cristão tivesse cruzado o caminho dela, alguma coisa teria sido diferente? A Bíblia diz que as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja, então, será que não teríamos força suficiente para impedir aquela reação em cadeia? Quais palavras nós teríamos para Hannah? O que diríamos quando ela nos contasse sobre os abusos que sofreu?

Me dói tanto saber que muito provavelmente, considerando a geração de cristãos que somos hoje, nossa presença na vida da Hannah não teria feito a menor diferença.

Provavelmente seríamos um de seus agressores ou pelo menos seríamos coniventes com as agressões verbais e virtuais, sendo incapazes de dar uma palavra em defesa.

Eu estou envergonhada. Estou em pedaços por dentro. Em pedaços por saber que tantas Hannah´s podem ter passado pela minha vida e eu não fiz nada. Por saber que elas estão aqui, em meu Facebook, e eu, mesmo sabendo de suas dores, não faço nada.

Meu coração dói ao lembrar de casos de suicídio e, principalmente, ao pensar nos pais desses jovens. Qual o sentido da vida desses pais hoje, ao saber que sua filhinha, a menininha dos seus olhos, sentiu tanta dor, que colocou fim a própria existência e eles não perceberam ou não puderam evitar? São raros os momentos em que me faltam palavras, mas este seria um desses. Eu não tenho o que dizer a um pai ou mãe que viveram uma situação dessas. Apenas oro para que Jesus dê sentido ao restante de sua existência.

E apesar do foco nos jovens, também penso nos pastores que tiraram sua vida ano passado. Penso no quanto o índice de suicídio entre eles têm crescido. Que igreja é essa, que mata seus próprios pastores? Sim, porque em cada uma dessas mortes, nós também apertamos o gatilho. Apertamos o gatilho cada vez que eles foram fracos e nós os condenamos; cada vez que eles precisaram de socorro, mas nós quisemos ser socorridos por eles primeiro; cada vez que eles precisavam de alguém pra chorar com eles, mas foram chorar conosco.

O filho de um pastor americano muito conhecido se suicidou há alguns anos. Choque, comoção e muitos, muitos julgamentos sobre “como pode um filho de um homem como aquele se suicidar”.

Uma das poucas coisas que a igreja sabe falar é que o
suicida vai pro inferno, no melhor estilo Idade Média de se pregar, como se pudéssemos realmente afirmar isso e como se o medo do porvir pudesse impedir alguém com tanta dor no agora.

Igreja, onde estamos? Desperta, ó tu que dormes! Aqueça-se no fogo consumidor que se espalha por essa Terra.

Levanta da sua cadeira, vai visitar quem precisa de você. Se não tiver jeito, aí sim, faz uma ligação, manda uma mensagem. Você pode ser o responsável pela decisão de vida de alguém. Vai, coloca um bálsamo na ferida. Estende as suas mãos para curar. Abre a sua boca pra ressuscitar. Se faltar palavras, dá aquele abraço apertado. Fica do lado dele ou dela uma hora, mesmo que seja em silêncio. Caminha mais uma milha. Chama pra igreja, mas chama pra um café também. Olha pra quem está ao seu redor, saia do celular um pouco na escola, na faculdade. Pergunta se você pode orar por ele ou ela, mas ora mesmo, de verdade, não fala e depois esquece.

Ame o seu próximo como a você mesmo.

Está na hora de retomarmos nossa missão.
Esse texto é para mim, apontado em minha direção.
Eu espero que essa série seja passada e debatida em escolas. Espero que todos os pais assistam e entendam que sofrer não é frescura, apesar de ser parte da vida.
Eu espero que a gente seja cheio do Espírito Santo e transborde amor onde precisa ser derramado.

Eu me arrependo e decido hoje tomar uma decisão.

E se você, meu amigo, está com dor e lê este texto, eu te peço, vamos conversar. Me dá apenas a chance de saber antes que você tome qualquer decisão. Não sofra sozinho nem mais um dia. Não é campanha, não é corrente, eu não tenho o que você precisa, mas talvez possa ser quem você precisa.

Vamos juntos?

"Eu vim para que tenham vida e a tenham em abudância". Palavras de Jesus em João 10.

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